Um fariseu convidou Jesus para jantar em casa. Jesus entrou, e se pôs à mesa. O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tinha lavado as mãos antes da refeição. (Lc 11,37-38)
Há alguns meses fui celebrar a Missa numa comunidade em nossa arquidiocese. Cheguei na comunidade com minha mochila. Nela trazia as vestes litúrgicas, a liturgia diária e meu tablet.
Eu trajava minha tradicional calça de tactel, camisa polo da campanha da fraternidade, minha cruz peitoral simples (eu não sou bispo!) e sandálias aos pés (coisa de franciscano).
Sentei-me num banco, atrás de dois rapazes. Eles conversavam sobre coisas da Igreja. Falavam num tom no qual era impossível não ouvir. Falavam sobre as missas da novena da padroeira da comunidade. Falavam dos padres que presidiram os primeiros dias da novena. Eu celebraria o oitavo dia.
Os rapazes não perceberam a minha presença. Falavam agora do jeito de cada padre: como se vestiam, como se portavam, como rezavam, etc.
Aqui estou mulambento (o bebê salva!) |
Sem saber que eu estava atrás, começara a falar de mim, pois eles já me conheciam. Interessante foi que eles tinham opiniões divergentes. Um falava que eu era um padre legal, que era inteligente e sabia muito de Bíblia. O outro dizia que eu era relaxado, “mulambento”, e não tinha “cara" de padre. O primeiro falava que minhas homilias eram profundas e bem preparadas. O segundo dizia que eu era um palhaço e brincava muito na homilia.
A discussão acabou quando o primeiro olhou para trás, me viu e deu um “toque” para seu amigo. Eles ficaram envergonhados sem motivo. Achei a conversa deles interessante e sincera. Em momento algum me senti ofendido. Celebrei a missa com o mesmo amor com que celebro todas as missas.
Nós padres somos diferentes uns dos outros. Nos vestimos de forma diferente, falamos de forma diferente, rezamos de forma diferente, trabalhamos de forma diferente, etc. Mas todos somos padres da mesma Igreja e estamos a serviço do mesmo Deus. Cada um tem seu talento, seu carisma. Cada um tem seus defeitos e limitações. Mas todos somos padres de verdade!
Mesmo que o rapaz me ache um palhaço “mulambento”, ele estava lá para participar da Eucaristia que eu presidi. Sua fé fez com que ele visse o próprio rosto de Cristo na “cara" de um padre que não tinha “cara" de padre! Ele prefiria me ver de batina preta e sobrepeliz, mas aceitou um padre de túnica branca e estola (sem casula). Ele recebeu o Corpo Santo do Senhor pela minhas mãos e com fé comungou no amor. Todo o preconceito não foi capaz de reduzir sua fé no fundamental.
Aqui não estou mulambento! Minha cara aqui é de frei! |
Como padre sinto-me amado pelo povo e odiado pelo mundo. O simples fato de ser padre faz com que o povo nutra um profundo sentimento de respeito e admiração. Isto com ou sem batina. O mero fato de ser padre faz com que as forças desse mundo se coloquem contra o padre com ou sem batina.
Além da batina existe o padre, sempre amado e odiado, num mundo cada vez menos capaz de se encantar com a ternura de Deus. Neste mundo não precisamos de padres de batina nem de padres sem batina. Neste mundo precisamos de padres com ou sem batina, sérios ou alegres, organizados ou relaxados, administradores ou pastorais, jovens ou idosos, etc… Mas, santos, somente santos.
Eu amo meus padres. Sejam quem eles forem. Eu os amo. Aprendi a rezar por eles. Por nós!
Continuo usando calça tactel, camisa da campanha da fraternidade, cruz e sandálias. Mas, me sinto mais padre do que nunca. Paz e bem a todos!!!
Oração: Senhor Jesus Cristo, Mestre de mim, ensinai-me a ver além das aparências e perceber que o interior é mais importante que o exterior. Cuidai de todos os padres para que possamos viver vosso Evangelho de todo o coração. Assim seja!
E mais do que nunnnnca O NOSSO PADRE Demétrius, louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo por fazer parte de nossas vidas Frei.
ResponderExcluirMuito boa sua partilha! Deus te abençoe! Paz e bem!
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