Disse
Jesus: “Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por
dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por
fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de
hipocrisia e injustiça. (Mt 23,27-28)
Quando eu era seminarista e estava no
penúltimo ano de seminário, eu dava um curso de Bíblia numa paróquia em
Campinas. Naquele dia eu tinha trabalhado o Evangelho de São João. Falávamos
sobre o mandamento novo: “O meu mandamento
é este: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Não existe amor maior do que
dar a vida pelos amigos. Sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. (Jo
15,12-14)
Falei bonito, toquei os corações,
despertei neles o interesse pela Palavra. Traduzi a necessidade de amarmos os
mais pobres de verdade e não em teoria. Fui aplaudido quando, ao responder uma
pergunta, disse que “no coração do
discípulo de Jesus, não há espaço para o ódio!”
Fui
embora todo feliz com a aula onde aludi sobre os mistérios do amor. No ponto de
ônibus um adolescente de rua, com uma faca, roubou meu relógio (presente de uma
comunidade de Hortolândia). Ele saiu correndo, mas dois homens o derrubaram e
começaram a chutá-lo. Em nenhum momento eu pensei em proteger o adolescente
daquelas agressões. Um sentimento de ódio profundo habitava meu coração, de tal
forma que eu mesmo queria agredi-lo. Um lobo feroz habitava dentro de mim.
Senti-me como Saulo, guardando os pertences daqueles que apedrejavam Estevão.
Saulo concordava com o apedrejamento. (Cf. At 8,1) Foram os policiais que
protegeram o adolescente. Eu era quem devia protegê-lo!!!
Esse
episódio de minha vida marcou profundamente a minha espiritualidade. De lá para
cá, luto todos os dias para conter o lobo feroz dentro de mim. Busco o amor de
Deus para conter o ódio que habita meu coração. Percebo, desde então, os meus
preconceitos e pecados. Agora vivo a batalha contra esse ódio fantasiado de
amor. Tomei consciência de que não tenho força alguma para combater este lado
tão sombrio. Descobri que somente Jesus Mestre pode conter essa força de morte
dentro de minha alma. Jesus Mestre, vencedor de todo o mal, é a “vacina” contra
o ódio disfarçado em amor.
Lembrei-me
dessa experiência, agora sempre presente em minha vida, observando as atitudes
e opiniões dos irmãos e irmãs nas redes sociais nestes últimos dias,
principalmente o facebook. Com as eleições presidenciais os ânimos se alteraram.
A polarização entre PSDB e PT gerou um índice de adesão a esta campanha
eleitoral que ultrapassou quaisquer outras eleições já realizadas em nosso
país. Um desejo de mudança acompanhado de intolerância ser firmou nos dois
lados em disputa.
Vi
pessoas boas, calmas, religiosas, amorosas se transformarem em guerreiros
furiosos que despejavam seu caldeirão de ódio em quem pensava diferente.
Vi
pessoas supostamente cultas, professores, tecnólogos, profissionais da saúde,
ministros de Igreja, agentes de pastoral e até padres revelando preconceitos
aos nordestinos e nortistas por causa do resultados das eleições. Houve também
preconceito contra mineiros e paulistas...
Um exemplo de ódio. Isso foi escrito por uma pessoa de bem! |
Em
tudo isso está aquele velho lobo feroz, pronto para se manifestar quando tiver
a primeira oportunidade. As eleições foram a ocasião perfeita para que o ódio,
fantasiado de amor, falasse mais alto.
Gente
de bem, gente de família, gente transformada em fera, cheia de ódio e
preconceito, escrevendo nas redes sociais as idéias mais odiosas possíveis.
Gente que fala em nome de Jesus...
Sinto
uma grande vergonha daquele dia do assalto. Espero que quem destilou seu ódio
possa também um dia se envergonhar de seus preconceitos. Mas, tenho uma
certeza: não tenho força contra esse ódio disfarçado de amor. Só Cristo em mim
pode vencer tamanho ódio. Ou nos aproximamos de Cristo ou o ódio vencerá.
Oração: Senhor Jesus Cristo, Mestre de mim, no mais
profundo de minha alma existe um lobo feroz cheio de ódio e rancor pronto para
sair e atacar quando as adversidades da vida acontecerem. Não tenho força
alguma, Senhor, para domar tamanha violência. Tenho a certeza que vós podeis dominá-la.
Por isso vos peço, ó Mestre: penetrai até a medula de meu espírito e, com Vossa
Palavra de vida e de amor, controlai a violência e o desequilíbrio que imperam
em meu coração. Que Vosso Amor e Vossa Ternura sustentem todo o meu ser. Assim
seja.
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